Quem passa pela rua Frederico Borges, no bairro Varjota em Fortaleza, mais precisamente em frente ao número 545, não deixa de reparar na edificação. A fachada exuberante, contemporânea e de traços marcantes por si só já é uma atração. Mas é para o seu interior que você deve literalmente guardar o seu olhar. Ali está abrigado um dos maiores acervos de fotografia não só do país como também da América Latina, até então inacessível ao público.
Portanto, se estiver caminhando, pare; se estiver de carro, estacione, desça e não deixe de entrar, a fim de apreciar o Museu da Fotografia de Fortaleza, aberto há pouco mais de seis meses.
Lindo por fora e por dentro, este museu se configura como o segundo do gênero no Brasil (o primeiro está em Curitiba) e o terceiro entre os países latino-americanos.
Uma conquista e tanto para a capital cearense! Chega dá orgulho para quem é da terra saber que existe um espaço tão bonito e convidativo como este na cidade, e que coloca o turismo local um patamar acima do batido circuito sol e mar.
Com projeto arquitetônico do cearense Marcus Novais, o edifício possui cinco pavimentos, quatro deles abertos à visitação.
No acesso principal, uma grande escada marca a entrada do Museu. Associada a ela, existe uma rampa para cadeirantes, destacada por um recuo que funciona como uma espécie de pequena praça, a qual exibe uma carnaúba, árvore típica do semiárido nordestino, trazendo, dessa forma, o toque regional para a arquitetura sóbria do edifício.
O pavimento térreo contempla o Lobby, uma área híbrida que abriga a recepção, um café, uma biblioteca, uma lojinha de souvenires, os banheiros e, logo ao lado, o espaço de exposição temporária.
A exposição permanente ocupa o primeiro e segundo andares, idênticos em planta, com decoração minimalista e que exibem um interessante jardim vertical na área central, onde estão as escadas e elevadores, representando uma transição, quase como um descanso visual, entre as mostras.
No terceiro pavimento, estão um terraço parcialmente coberto, que tem vista para a cidade, e uma sala multiuso, ambos destinados a eventos, oficinas e palestras.
No subsolo, fica a parte administrativa e de apoio, incluindo uma reserva técnica para o acervo.
O vídeo a seguir lhe leva a um passeio pelo Museu da Fotografia de Fortaleza:
O acervo
No momento, as mostras reúnem 440 das mais de duas mil imagens colecionadas nos últimos dez anos pelos empresários cearenses Paula e Sílvio Frota, idealizadores do museu.
São registros dos maiores expoentes da arte fotográfica no Brasil e no mundo, sendo 66 fotógrafos brasileiros e 46 estrangeiros.
Assinaturas como as de Henri Cartier-Bresson, Steve McCurry, Cindy Sherman, Robert Capa, Evandro Teixeira, Sebastião Salgado, Gabriel Chaim, por exemplo, estão expostas nas paredes do museu, narrando histórias, por meio de imagens, das guerras mundiais, da Grande Depressão de 1930, da Ditadura Militar brasileira, dos conflitos que arruinaram a Síria, dos protestos de 2013 no Brasil, entre muitos outros momentos históricos.
Para você ter uma ideia das preciosidades que vai encontrar, a icônica “Menina afegã” tem apenas 25 originais espalhados pelo mundo e um deles está no Museu da Fotografia de Fortaleza.
A garota chegou a ser alçada ao posto de a “Mona Lisa da fotografia”.
Após perder os pais durante a invasão soviética ao Afeganistão, Sharbat Gula foi fotografada por McCurry, sendo capa da revista National Geographic, em 1985.
A obra foi o primeiro item comprado pelos Frota para começar a coleção.
Entre as centenas de imagens mundialmente famosas estão também trabalhos de artistas locais, como as de Chico Albuquerque, pioneiro da fotografia no Ceará, retratando os bastidores do filme rodado por Orson Welles em Fortaleza.
E não se intimide em visitar o museu se você nunca ouviu falar desses nomes e não tem proximidade com a arte.
A forma como o museu foi pensado e executado tratou de dar um jeito para que qualquer um se sinta a vontade em visitá-lo.
Para isso, o local contou com a curadoria de Ivo Mesquita (ex-Pinacoteca de São Paulo), que organizou as imagens de modo que elas não pareçam individualizadas e contem, juntas, uma história.
Além disso, o visitante tem o auxílio de monitores que realizam visitas guiadas e podem tirar suas dúvidas.
As mostras
Junto ao Lobby está a mostra temporária “Um Imaginário de Cidades” e “Sobre Crianças”.
Na primeira, além das fotografias, merece destaque o trabalho “Baldes”, de Patrick Hamilton, uma instalação feita com backlights, em que baldes espalhados no centro da sala trazem imagens de santiago, capital do Chile, fotografada à noite.
As imagens foram captadas do alto do Sky Costanera, mirante que fica no 61º andar do edifício mais alto da América Latina: a Gran Torre Santiago, de 300 metros de altura, integrada ao complexo do shopping Costanera Center.
O trabalho tira o olhar do visitante da linha do horizonte e o força a olhar para baixo, dando a impressão de ele estar no alto do edifício admirando a cidade. Muito legal!
É também em “Um Imaginários de Cidades” onde você vai encontrar “A Menina Afegã”. É uma experiência impactante. A força do olhar que chamou a atenção do fotógrafo certamente também atrairá o seu.
Dirigindo-se ao primeiro andar, a gente se depara, então, com a exposição “Jogo de Olhares“, envolvendo aspectos da fotografia moderna e contemporânea.
Ali, estão olhares como o de Joe Rosenthal, que captou, em 1945, a conquista pelo exército norte-americano da ilha Iwo Jima no Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial.
Neste pavimento é possível conhecer ainda o fotojornalismo artístico de André Cypriano, com seus surfistas da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro; e o flagrante feito em 1970, mostrando mulheres sentadas no calçadão de Copacabana, por Bina Fonyat.
Ainda por lá, Henri Cartier-Bresson, sempre em destaque por sua importância no universo da fotografia; o realismo de Evandro Teixeira registrando a Ditadura Militar brasileira, por meio da Passeata dos 100 mil.
Tem também o trabalho fotojornalístico de Victor Dragonetti (o profissional mais jovem da exposição), imerso nos movimentos das ruas paulistanas, durante as manifestações de 2013.
Já no segundo piso, encontramos a mostra “O Norte e o Nordeste”, onde podem ser apreciadas imagens sobre essas duas regiões do Brasil.
Na sequência, uma seleção de trabalhos de sucessivas gerações de fotógrafos, a exemplo de Chico Albuquerque, José Medeiros, Gentil Barreira, José Albano, Pierre Verger, assim como de Jean Manzon e Marcel Gautherot.
As imagens, atuais e históricas, contemplam paisagens que vão do mar ao sertão, de diversos tipos humanos e de Fortaleza Antiga.
Esta mostra divide espaço com “É tudo verdade”, exposição com fotografias do cearense Chico Albuquerque, retratando os bastidores do filme rodado por Orson Welles na capital cearense.
Tem até uma sala especial, com um documentário sobre Albuquerque, em comemoração ao seu centenário.
Além da contemplação
Segundo a coordenadora do Museu, Fernanda Oliveira, contou ao blog, a ideia é transpor a simples contemplação da fotografia e proporcionar ao visitante uma vivência mais ampla por meio dessa arte.
“Queremos o Museu da Fotografia de Fortaleza como um órgão vivo, envolvendo muitas atividades”, disse.
Ela se refere à extensa programação do museu que promove palestras com fotógrafos que têm seus trabalhos ali expostos, a fim de aproximar o público dos artistas, e também oficinas sobre fotografia, revelando como ela pode conversar com outras áreas e manifestações artísticas.
Se você quiser prolongar sua experiência com a arte fotográfica, não deixe de passar na biblioteca instalada no lobby. Além de muitos livros sobre o tema, máquinas fotográficas de todos os tempos estão em exposição.
E se desejar levar alguma recordação do museu e dos momentos que ali passou, a lojinha vende artigos que vão desde lápis (R$ 3,90), bolsas (R$ 25 a R$ 35), camisetas (R$ 35) e bonés (R$ 39), passando por reproduções de obras fotográficas (desde R$ 85) e livros.
Serviço
O Museu da Fotografia de Fortaleza fica na Rua Frederico Borges, 545, no bairro Varjota.
O horário de funcionamento é de quarta a domingo, das 12h às 17h.
O ingresso custa R$ 10,00 e tem gratuidade para menores de 18 e pessoas acima de 60 anos de idade. Na quarta-feira a entrada é gratuita para todos
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