Recife a pé: roteiro revela o melhor do lado cultural da cidade

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Sou o tipo de viajante que gosta de conhecer os lugares, especialmente os centros históricos, caminhando. Tudo fica mais nítido. As cores e formas das construções, a maneira como as pessoas se relacionam com o local onde vivem, o cheiro e os sabores são exemplos do que pode ser descoberto em um passeio a pé, sem pressa, no nosso ritmo. Só assim dá para afirmar que visitamos de fato uma cidade.

E eu comecei o post dessa forma para lhe convencer a seguir comigo em uma caminhada bastante interessante, e com uma pegada bem cultural, por um lugar que gosto muito: o Recife Antigo.

Pode até parecer estranho, até porque eu já estive na capital pernambucana mais de uma dezena de vezes, mas até então eu nunca tinha tido a chance de explorar o local como o fiz recentemente.

No fim de março deste ano, fui à cidade para conhecer os atrativos de Pernambuco durante a Semana Santa – notadamente a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém -, a convite do governo estadual, por meio da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer.

Sede do porto de Recife, o bairro passou, e continua passando, nos últimos anos por um processo de revitalização.

E o turista – acredito que o morador também – agradece, afinal, os palacetes e sobrados viraram centros culturais, os armazéns transformaram-se em restaurantes, lojas e museus e a região ganhou uma atmosfera muito rica e agradável culturalmente falando.

Não é à toa que a cidade vem adotando como slogan “Recife, terra da cultura”.

Isso posto, vamos caminhar? Mas pode ficar tranquilo, pois tudo é muito próximo. Não vamos andar nem um quilômetro no total. Porém, é importante que se reserve um dia inteiro para fazer esse roteiro.

Embora geograficamente falando ele seja pequeno, por outro lado, a quantidade de atrações é grande, por isso dê início ao passeio por volta das 8h da manhã. Também não vale a pena fazê-lo às segundas-feiras, quando várias dessas atrações fecham.

Onde tudo começou

Para começar, não há nome mais sugestivo senão o Marco Zero (foto de abertura), local onde nasceu a cidade, em 1537, e que fica à beira do estuário do Cais do Porto.

Oficialmente chamado de Praça Barão do Rio Branco, é um calçadão de frente para o mar com um enorme painel colorido no chão, do artista plástico Cícero Dias, sinalizando uma rosa dos ventos.

De lado há um busto de bronze do Barão do Rio Branco, escultura do francês Felix Charpeutier, colocada ali em 1917, sobre um pedestal em pedra esculpido por Corbiniano Vilaça.

Do outro, uma obra mais moderna: um letreiro com o nome da cidade, que constantemente sofre intervenções, como a mais recente, por meio da qual cada letra da palavra Recife ganhou um trabalho em grafite de diferentes artistas pernambucanos.

Roteiro cultural por Recife

Letreiro com o nome da cidade é parada obrigatória para fotos no Marco Zero Fotos: Anchieta Dantas Jr.

Existe ainda a estátua do músico Naná Vasconcelos, produzida pelo escultor Demétrio Albuquerque, e que integra o Circuito da Poesia, composto por mais outras 16 estátuas de importantes poetas da história recifense, colocadas em pontos estratégicos e significativos para eles.

No caso de Naná, o local foi escolhido pela representatividade na sua carreira, que durante anos foi mestre de cerimônias da abertura oficial do carnaval do Recife, no comando de centenas de batuqueiros de diversas Nações de Maracatu.

Já em frente ao Marco Zero, do outro lado do estuário, sob um dique natural, encontra-se o Parque das Esculturas Francisco Brennand, com 90 obras do artista, entre elas a famosa Coluna de Cristal, que possui 32 metros de altura. Barcos fazem a curta travessia para quem quiser visitar. O trajeto de ida e volta custa R$ 5.

Artes e saberes

Literalmente ao lado do Marco Zero, na mesma praça, fica o Centro do Artesanato de Pernambuco, ocupando um dos antigos armazéns do porto. A organização é impecável e tem de tudo por lá: banda de pífanos, bonecas e galinhas d’angola de barro – estas símbolo de Porto de Galinhas -, esculturas em madeira, rendas, bordados, arte sacra e uma infinidade de peças.

O interessante é que, basta uma volta pelo local, para a gente ter uma visão geral do artesanato de todas as regiões do estado.

Roteiro cultural por Recife

Centro de Artesanato de Pernambuco

Roteiro cultural por Recife

Santos são destaque no artesanato pernambucano

Ao sair, atravesse a Avenida Alfredo Lisboa e entre em um palacete amarelo de 1912, local que abriga a Caixa Cultural Recife, onde costumam acontecer exposições interessantes.

Uma rua de atrações

Apesar da quantidade de coisas que já fizemos até agora, você há de concordar que não caminhamos quase nada, né?

Então, sigamos em direção à Rua Bom Jesus (antiga Rua dos Judeus), primeira paralela à Alfredo Lisboa.

Roteiro cultural por Recife

Rua cheia de histórias

O logradouro mais charmoso do Recife Antigo tem sobrados coloridos e calçamento de paralelepípedos com o antigo trilho dos bondes.

Roteiro cultural por Recife

Sobrados coloridos dão mais charme à Rua Bom Jesus

Nessa rua ficam a mais antiga sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel (fechada às segundas e sábados e no domingo funciona somente à tarde), dando início à história dos judeus no nosso continente (a entradacusta R$ 10); e a Embaixada dos Bonecos Gigantes que guarda os personagens principais do carnaval olindense – apesar do rico acervo, devido ao espaço, apenas 60 peças estão expostas (R$ 15).

Roteiro cultural por Recife

Kahal Zur Israel, a sinagoga mais antiga das Américas

Roteiro cultural por Recife

Embaixada dos Bonecos Gigantes

Recomendo entrar em ambas as atrações, além de interessantes, elas não tomam mais do que uma hora do nosso tempo.

No ritmo do frevo

Depois, basta mais alguns passos pela Rua Bom Jesus e chegamos à Praça do Arsenal da Marinha. No local você vai se deparar com o Paço do Frevo, um espaço cultural que ensina tudo sobre esse ritmo.

Roteiro cultural por Recife

Praça do Arsenal com o Paço do Frevo ao fundo

No térreo, uma inusitada linha do tempo é apresentada por meio de livros pendurados, contado a evolução de frevo ano a ano com grande riqueza de detalhes.

Porém, o melhor mesmo está no último e panorâmico andar, onde, no anfiteatro, há shows, oficinas e se vê o Rio Capibaribe e o mar através dos vidros, que ainda exibem as letras dos frevos mais famosos.

Há também o Glossário do Frevo e sob o piso de vidro estandartes das principais agremiações carnavalescas de Olinda. Sensacional! Reserve ao menos uma hora para desfrutar da atração.

Roteiro cultural por Recife

Linha do tempo conta a história do frevo

Roteiro cultural por Recife

Anfiteatro do paço do Frevo

Roteiro cultural por Recife

Glossário do Carnaval

Patrimônio gastronômico

A essa altura do passeio, a fome já deve ter dado sinal de vida, né? Para dar um jeito nela, a dica é atravessar a rua e parar, logo ali do ladinho, na lanchonete As Galerias.

O local é tombado como Patrimônio Cultural, Gastronômico e Imaterial do Recife. Tudo por causa de uma vigorosa bebida ali criada, o maltado, feita com sorvete de creme, leite maltado e malte de cacau batidos.

Roteiro cultural por Recife

Lanchonete As Galerias: Patrimônio Cultural, Gastronômico e Imaterial de Recife

Roteiro cultural por Recife

O famoso maltado, feito com sorvete de creme, leite maltado e malte de cacau batidos

Para acompanhar, o cardápio oferece sanduíches ou o bolinho cubano, de trigo e coberto com malte de cacau, castanha e amendoim.

Depois de provar o maltado, vale dar uma olhada nos murais pitados na lateral do Centro de informação Turística e dar uma voltinha na Embaixada de Pernambuco, do outro lado da Praça do Arsenal.

Este espaço é meio que uma extensão da Embaixada dos Bonecos Gigantes, sendo que dedicado a outras formas de comemorar o carnaval em Pernambuco.

Há apresentações de passistas de frevo, os quais convidam os visitantes a aprenderem alguns passos. Dá uma espiadinha neste vídeo que fiz!

Homenagem à cultura do sertão

Para fechar o passeio a pé pelo Centro do Recife, por volta de umas 14h, retorne à Avenida Alfredo Lisboa e se deslumbre com o Cais do Sertão (ingresso R$ 10), uma grande homenagem ao povo e à cultura do sertão nordestino, curiosamente localizado à beira-mar.

Instalado em um antigo armazém portuário, este museu é pura interatividade, apresentando muitos audiovisuais e bela cenografia. Tudo ali exposto se concentra na vida do sertanejo, o Rio São Francisco e Luiz Gonzaga.

Roteiro cultural por Recife

A bela cenografia do Museu Cais do Sertão

Roteiro cultural por Recife

No Cais do Sertão, o universo sertanejo contado na obra de Luis Gonzaga

Roteiro cultural por Recife

A exposição permanente do Cais do Sertão se concentra na vida do sertanejo e na obra de Luís Gonzaga

No segundo andar, há cabines individuais de karaokê para que você possa testar seu talento musical e depois escutar a sua performance. Mas pode ficar sossegado que ninguém vai te ouvir desafinar os clássicos do forró. Muito divertido!

Imperdível ainda é o vídeo que mostra um dia na vida do sertanejo. Emocionante!

Dedique em torno de uma hora a este museu, procurando sair por volta de umas 15h ou no máximo às 15h30, a tempo de embarcar em um passeio de catamarã para ver o Centro da cidade sob outra perspectiva.

Recife vista das águas

A capital de Pernambuco é cheia de pontes e muitas histórias e nada como desfrutar da paisagem e aprender um pouco mais sobre a cidade do que em um passeio de catamarã. E, ao entardecer, o cenário fica ainda mais bonito!

O passeio que parte todos os dias às 16h do cais da Catamaran Tours (a 50 metros do Forte das Cinco Pontas) é inesquecível.

Navega pelas águas do rio Capibaribe, percorrendo as três ilhas do Centro de Recife (Santo Antonio, Recife Antigo e Boa Vista), passando por baixo de cinco pontes (Ponte 12 de Setembro, Ponte Maurício de Nassau, Ponte Manuel Buarque de Macedo, Ponte Princesa Isabel e Ponte Duarte Coelho).

Durante o city tour aquático, a gente tem vista privilegiada de vários pontos turísticos, tais como o Parque de Esculturas de Francisco Brennand, a Praça do Marco Zero, o Paço Alfândega, o Ginásio Pernambucano, a Assembleia Legislativa, o Teatro de Santa Isabel e o casario da Rua da Aurora.

Tudo isso com a presença de um guia que relata histórias e curiosidades do Recife.

Assista ao pequeno vídeo que fiz deste passeio:

E aí, gostou das nossas dicas? Então, acho que você já pode arrumar a mala para curtir as atrações in loco, né?

Até porque, está aí mais um exemplo de que o Nordeste do Brasil tem muito mais a mostrar do que praias. É uma região muito rica nos quesitos, cultura, artesanato, gastronomia, natureza e alegria do seu povo.

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4 Responses
  • Cida
    abril 6, 2018

    Nossa! me deu muita vontade de voltar a Recife e ver com esses olhos.
    Muito bom!!

    • Anchieta Dantas Jr.
      abril 6, 2018

      Obrigado, Cida!

  • Hugo
    abril 7, 2018

    Recife é realmente demais! Fui na semana santa e curti bastante também, repleto de cultura e lugares maravilhosos

    • Anchieta Dantas Jr.
      abril 10, 2018

      Obrigado pela visita, Hugo!

      Que bom que gostou de Recife.

      Abraços,

      Anchieta.

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