O Ceará se destaca nacional e internacionalmente pela prática de esportes náuticos. Principalmente, dado aos ventos fortes que sopram ao longo dos seus 573 km de litoral. Por esta razão, não é à toa este ser um dos vieses explorados pelo turismo estadual. Um forte atrativo para os viajantes interessados em modalidades como o kitesurfe e o windsurfe. E a tendência, agora, é diversificar! Basta olhar para iniciativas como a da Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor), que passa a apostar no turismo de mergulho.
A capital cearense já possui alguns pontos de mergulho – pouco ou inexplorados turisticamente falando. Porém, será por meio da inclusão de Fortaleza no Programa Nacional de Recifes Artificais, da Embratur (Instituto Brasileiro do Turismo), que a Setfor pretende alavancar a prática. Isto reforçará ainda mais a vocação da cidade e do estado para o turismo náutico, que inclui o turismo de mergulho.
Obviamente, o turismo náutico é bem mais abrangente. Envolve além dos esportes, cruzeiros, passeios de barco pela orla e muito mais. No entanto, o mergulho certamente é um forte aliado, dado ao seu potencial. Muitos destinos mundo afora tem a atividade como chamariz em seu rol de atrações.
Ao ficar sabendo desse programa, o Blog Andarilho procurou a atual secretária de Turismo de Fortaleza, Leiliane Vasconcelos, para saber mais.
De acordo com ela, tudo começou no fim de 2019. Nesta época, o então secretário, Alexandre Pereira, escutou Gilson Machado Neto, presidente da Embratur, falando do interesse em fortalecer turismo náutico no Brasil. Diante disso, o ex-secretário foi a Brasília e solicitou a inclusão de Fortaleza entre as cidades a serem contempladas pela iniciativa.
Programa de Recifes artificiais
Do interesse da Embratur nasceu o Programa Nacional de Recifes Artificiais. “Esse programa prevê o afundamento de grandes equipamentos para que eles se tornem locais de acúmulo de peixes e virem santuários marinhos”, explica Leiliane.
De acordo com ela, esses equipamentos podem ser, por exemplo, tanques de guerra, uma draga em desuso, um barco abandonado ou um vagão de trem. “Tudo dentro de critérios legais e observando a questão ambiental, com todas as autorizações necessárias”, relata a secretária.
Conforme disse, onde há santuários marinhos é grande o interesse dos turistas pelo mergulho. “Nossa intenção com a inclusão no programa é atrair esse tipo de turista. Fortaleza é uma cidade com mais de 30 km de praias e a gente explora muito mal o turismo náutico”, afirma.
Tem mais: o turismo náutico, envolve outras variáveis. “Falamos aqui no sentido de aproveitar a nossa orla, com embarcações, passeios etc. Nossos passeios de escuna, por exemplo, não têm infraestrutura para que as pessoas cheguem às embarcações. Elas são necessárias para poder fortalecer esse tipo de turismo”.
E o turismo de mergulho, emenda a secretária, “é apenas uma das possibilidades do turismo náutico e, certamente, tem grande potencial de atração para a cidade”.
Mas, afinal, em que pé está a inclusão da cidade no Programa Nacional de Recifes Artificiais e a promoção do turismo de mergulho em Fortaleza?
Segundo ela, a cidade já está no programa, é fato. “Porém, estamos fazendo o dever de casa. Estamos na fase de levantamento para mapear os locais de mergulho em nossa costa, buscando possíveis equipamentos para afundar e contatando quem possa nos ajudar do ponto de vista técnico”, adianta.
O mergulho em Fortaleza
Basicamente explorado por cearenses, o mergulho ao logo da costa de Fortaleza conta, atualmente, com pontos, que, em sua maioria, são destinados a mergulhadores mais experientes, em razão da profundidade média de 23 metros e das correntes marítimas. Além de fatores como a distância e do tempo de deslocamento, o que incomoda devido ao balaço do mar.
O mais conhecido deles é o da Pedra da Risca do Meio, com profundidade variando de 22 e 29 metros e onde está o maior recife natural na região (quase um quilômetro de extensão), considerado como o “coração” do Parque Estadual Marinho do Estado do Ceará.
O Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio foi criado através da Lei Estadual Nº 12.717 de 05 de Setembro de 1997. É a única Unidade de Conservação Marinha do Estado do Ceará.
Ainda dentro do Parque Nacional Marinho, outros pontos são o Cabeço do Arrastado e o Cabeço do Balanço. Fora dele, minhas buscas apontaram ainda para o Naufrágio do Titanzinho (barco pesqueiro que naufragou em 1986, localizado a seis quilômetros do Porto do Mucuripe). Certamente devam existir outros. Esse levantamento está sendo feito pela Setfor.
Mas como é mergulhar ao longo da costa da cidade? O que podemos encontrar? O turismo de mergulho em Fortaleza vale a pena? Para saber mais eu conversei com dois amigos que já se aventuraram sob o mar do Ceará.
Como é mergulhar no Ceará
Joana Karen, que assina o perfil Morar em Fortaleza no Instagram, com dicas e sugestões do que fazer na cidade, é uma delas. Ela conta que há dez anos ouvia falar do Parque Estadual Marinho do Ceará e da Pedra da Risca do Meio, considerado, afirma, como “um dos melhores pontos de mergulho do Brasil”. Em 2019, finalmente ela teve a chance de conhecê-lo.
“Porém, veja que não é tão simples. Não se trata, na prática, de um passeio turístico. O Parque fica a 20 km da costa, a partir do Porto do Mucuripe, e a viagem de barco até lá é sofrida”, recorda.
Dessa forma, ela não recomenda que se faça, ali, um mergulho do tipo batismo. “Nessa categoria, qualquer pessoa, mesmo sem curso, pode mergulhar, até dez metros, com o auxílio de um instrutor. Ocorre que no Parque Estadual Marinho do Ceará, os pontos de mergulho têm em geral mais de dez metros de profundidade e exigem de você conhecimentos mais aprofundados”, frisa.
O ideal, aconselha, é fazer um curso que capacite a mergulhar. “Esse curso consiste em três etapas: aulas teóricas, aulas práticas na piscina e o ‘check out’, ou mergulho em águas abertas, que, no meu caso, foi no ponto chamado Cabeço do Arrastado. Uma visibilidade maravilhosa e abundante vida marinha, de fato, vale muito a pena”, fala.
Após finalizar o curso, ela conta que já mergulhou em Fernando de Noronha e Abrolhos. “Claro que são cenários marinhos diferentes, mas a sensação é bem compatível com a do nosso Parque”, compara.
Vida marinha se destaca
“Mergulhar no Parque Nacional Marinho vale muito a pena, para sair um pouco do turismo comum e checar o que esse marzão do Ceará tem a oferecer”, reforça o engenheiro de produção Yuri Pontes Vieira, com quem também bati um papo sobre a experiência.
Para ele, chama a atenção a fauna abundante do local, com diversos cardumes de peixes coloridos, moreias, tartarugas, arraias e lagostas. “Também é frequente a presença de tubarões-lixa, que são uma espécie pacífica. Há muitos corais, mas não são o maior atrativo do passeio, devido não serem tão coloridos”, relata.
De acordo com Yuri, ali é possível fazer mergulhos de cilindro a várias profundidades e para diferentes níveis de experiência dos mergulhadores, mas apenas para pessoas certificadas, devido ser mar aberto e haver a necessidade de medidas de segurança e cautela.
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Victor Novaes
junho 24, 2020O investimento precisa ser alto. O Ceará não possui qualquer estrutura destinada ao mergulho.
Não há estrutura física (embarcações próprias para a prática do mergulho, píer de acesso e nem estrutura de operadoras na orla), não há incentivo por parte dos governos, não há sequer uma fiscalização ou interesse em proteger os pontos de mergulhos… nota-se pela quantidade de redes encontradas nesses pontos e a quantidade de tubarões e Meros vendidos no mercado do Mucuripe a céu aberto! Uma tristeza só….
Quem mergulha no Ceará vive um verdadeiro sofrimento, e olha que eu sou Mergulhador de uma geração recente. Se querem fazer disso uma aposta pro Turismo, os órgãos competentes e governos precisam fazer altos investimentos para criar tais recifes artificiais, investimentos para criar áreas de proteção e fiscalizá-las, incentivos para as operadoras funcionarem de forma decente e um pensamento sócio ambiental que está longe de existir no Estado. Estão dispostos??? Eu custo a acreditar.
Aqui, a gente mergulha com muito sofrimento, assumindo um alto risco de vida e ainda lutando pra tirar redes dos pontos de mergulho. Sou fotógrafo sub aquático, tenho belas imagens marinhas dos nossos verdes mares! Mas é sofrido e a gente precisa viajar pra outros estados pra praticar de forma tranquila.
Por isso dizem, quem mergulha no Ceará, mergulha em qualquer lugar do mundo. Não é fácil. É triste.