Quioto: como chegar, circular e o que ver e fazer no berço da cultura japonesa

Se Tóquio é o centro das tendências, do avanço tecnológico, do poder político e econômico do Japão, Quioto, por sua vez, é a alma e a essência da cultura japonesa. Durante a maior parte da sua história, a cidade chegou a representar o país. Até hoje, é onde se encontra tudo aquilo que o simboliza: centenas de templos budistas e santuários xintoístas maravilhosos, jardins sublimes, edifícios tradicionais, gueixas finamente vestidas em quimonos de seda, a cerimônia do chá, entre tantas outras expressões da Terra do Sol Nascente.

Em minha opinião não é a cidade mais bonita do Japão, mas é, por assim dizer, depositária fiel da cultura japonesa. Capital do país por séculos, depois de Nara e antes de ser Tóquio, ainda hoje é o local para o qual os próprios japoneses vão quando querem aprender sobre as suas tradições. Tanto que está na lista de Patrimônios da Humanidade da Unesco.

Portanto, é uma obrigação colocar Quioto em qualquer itinerário de viagem ao Japão. E a cidade foi justamente o meu destino depois de sete dias passeando por Tóquio e arredores.

Para facilitar o planejamento da sua viagem, a seguir, eu dou todas as dicas e falo do meu roteiro para que você possa curtir esta que é a cidade mais tradicional do Japão.

Mas antes, eu lhe convido a ler também o post Japão: tudo o que você precisa saber para a planejar a sua viagem. Nele você encontrará o passo a passo – quando ir, como comprar a sua passagem, reservar a sua hospedagem, como tirar o visto, que moeda levar, comunicação e internet, como se deslocar pelo Japão e nas cidades, entre outros pontos importantes.

Como chegar a Quioto

Vindo de Tóquio, Quioto é mais facilmente acessível por via férrea, com o trem-bala, o shinkansen, onde os 550km que as separaram são percorridos em apenas 2h45. O trajeto é coberto pelo JR Pass, o passe de trem japonês, que eu recomendo fortemente para quem vai ao Japão.

Para você ter uma ideia, a viagem de ida e volta a Kyoto, saindo de Tóquio, custa 27.820 ienes (US$ 251,51 ou R$ 938,93, na cotação do Banco Central do Brasil em 18.02.2019), quase o valor do passe para sete dias – 29.110 ienes (US$ 263,18 ou R$ 982,46). Se for visitar uma terceira cidade, já está valendo a pena ter em mãos o JR Pass.

E olha que de Quioto dá para fazer vários bate e volta de trem. Então, esse passe será uma mão na roda. Saiba mais sobre o JR Pass aqui.

Já de avião, eu não recomendo. O aeroporto mais próximo de Quioto é o Aeroporto Internacional de Kansai, a 50Km de Osaka, cidade que, por sua vez, está a 30 minutos de trem de Quioto. Então, mesmo que a passagem aérea esteja mais barata, vale considerar os custos para se deslocar desse aeroporto até o destino final. Pode não compensar. Fora o tempo que se perde!

Além disso principal estação de trens de Quioto é a JR Kyoto, uma gigantesca estrutura que reúne centro de compras, entretenimento e transportes, situada bem no centro da cidade e conectada com os principais hotéis e pontos turísticos de metrô, trens urbanos e ônibus.

Como se deslocar pela cidade

Quioto aparenta ser pequena, mas não é. A cidade é razoavelmente grande e suas atrações estão espalhadas em toda a sua extensão. O centro está disposto como se fosse um tabuleiro de xadrez, onde ruas paralelas cruzam as avenidas. Nesta parte da cidade estão atrações importantes como o Castelo Nijo-jo e o Palácio Imperial.

Todavia, outros locais de grande interessante estão às marges dessa espécie de xadrez urbano, em bairros com ruas estreitas e tortuosas. Nada que um bom mapa não resolva, no entanto, o transporte público é essencial para se ter uma boa experiência em Quioto.

A leste, por exemplo, está a montanha Higashiyama, em cujos arredores estão os templos Kiyomizudera, Sanjusangendo e Ginkakuji, além do famoso passeio Caminho do Filósofo.

Já a nordeste, em uma área mais complicada de acesso, estão outras atrações super recomendadas, como o templo Kinkakuji (foto de abertura deste post), conhecido como o “Pavilhão Dourado”.

E é muito fácil usar o transporte público de Quioto. As linhas de trens urbanos e de metrô são bem sinalizadas em inglês. As companhias JR, Keihan, Hankyu e Keifuku cruzam a cidade em diferentes direções; enquanto que as duas linhas de metrô (Tozai e Karasuma) têm utilidade limitada, cobrindo trechos de leste a oeste e norte a sul.

Keihan , uma das companhias de trens urbanos de Quioto

Por isso, eu considero os ônibus a opção mais interessante para circular por Quioto, mesclando, é claro, com agradáveis caminhadas.

As linhas de ônibus também são bem sinalizadas em inglês, com displays eletrônicos indicando a próxima parada. Cada viagem custa 220 ienes (US$ 1,99 ou R$ 7,43), com cartões de um dia saindo por 600 ienes (US$ 5,42 ou R$ 20,25), válidos para viagens ilimitadas. Se você for usar o transporte para mais de duas viagens já compensa comprar esse cartão.

Display em japonês e inglês nos ônibus em Quioto Japão

Atenção: tanto os bilhetes avulsos como os cartões diários são adquiridos dentro do ônibus, antes de descer e não ao subir, em uma máquina ao lado do motorista. A máquina não dá troco, mas troca notas de 1.000 ienes em moedas de 50, 100 e 500 ienes, para que você possa fazer o pagamento da viagem.

Máquina para bilhetes de ônibus em Quioto

Para uma melhor orientação, solicite em seu hotel um mapa com as linhas de ônibus existentes.

Onde se hospedar em Quioto

Escolhendo o lugar certo você conseguirá fazer muita coisa caminhando, que é muito mais prático do que sempre ter que se deslocar de transporte público.

Com relação à localização, sugerimos hospedar-se na área central, justamente para estar mais próximo do comércio e dos restaurantes.

A área de Gion é muito indicada também, porque, além de ser um local tradicional, tem bastante comércio, vários restaurantes e está próxima da vida noturna. Para quem gosta de ficar perto de tudo, essa área é uma boa.

Outra região um tanto popular e com uma enorme quantidade de hotéis é a região da Estação de Trens de Quioto, a principal da cidade. Além da boa localização dessa zona e da facilidade de ter o comércio próximo, é um ótimo local para poder deslocar-se com agilidade por estar próxima à saída dos trens e dos ônibus para vários cantos. Os hotéis dessa área costumam ser mais modernos, enquanto os hotéis de Gion são mais tradicionais.

Em minha visita a Quioto, eu optei pelo Imano Kyoto Kiyomizu Hostel, que fica na região de Higashiyama, e gostei muito. Essa zona é vizinha a Gion e ao templo Kiyomizu-Dera e a cerca de 10 a 15 minutos de ônibus da Estação de Quioto. Deu para visitar muita coisa a pé e tomar um ônibus quando fosse necessário. 

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O que você não pode perder em Quioto

Com 17 Patrimônios Mundiais da Humanidade da Unesco, mais de 1.600 templos budistas e cerca de 400 santuários xintoístas, Quioto é considerada uma das cidades mais ricas, culturalmente falando, do mundo.

Ao mesmo tempo exibe jardins maravilhosos, parques, palácios e muitas construções de arquitetura tradicionalmente japonesa. Por isso, o que ver e fazer não falta.

Porém, eu vou lhe dar uma ajudinha para que você não se perca diante de tantas opções e otimize o seu tempo.

Até porque, quando visitamos muitos templos e santuários, as coisas começam a ficar repetitivas (pelo menos foi o que eu senti), então eu elegi e elenco, a seguir, as atrações e os passeios que eu considero imperdíveis em uma estada em Quioto.

Kiyomizu-dera

É mais famoso e visitado templo budista de Quioto. No alto da montanha de Higashiyama, em meio a uma área verde impressionante, oferece uma vista espetacular de Quioto. A entrada custa 400 ienes. Acessível pelo ônibus 206, descendo na parada Kyyomizu-michi ou Gojo-zaka.

Sanjusangen-do

Ao sul de Higashiyama, vale a visita por abrigar 1.001 estátuas de Kannon, a deusa budista da misericórdia. O efeito visual é impressionante! Fique atento à estátua maior, o Senju-Kannon de mil braços.

Infelizmente não é possível fotografar o salão onde as estátuas estão, o que não é motivo para deixar de conhecer. O exterior é bastante agradável. O ingresso custa 600 ienes. Acessível pelo ônibus 206, descendo na parada Sanju-sangen-do-mae.

Yasaka-jinja

Considerado o guardião do animado bairro de Gion, esse santuário xintoísta é bastante movimentado e bem colorido, rendendo belas fotos.

A entrada é grátis. Dá para chegar caminhando desde o templo Kiyomizu-dera. A linha S do metrô Tozai também leva, descendo na estação Higashiyama.

Nanzen-ji

É um dos maiores e mais bonitos templos de Quioto. Em estilo zen, também fica na região de Higashiyama, exibindo, na entrada, um portão superalto (San-mon) e vários subtemplos intimistas. Também oferece uma bela vista para a cidade.

As dependências externas são gratuitas. Paga-se 500 ienes para visitar o jardim e 400 ienes ára subir o portão principal. O acesso pode ser pelo ônibus 5, descendo em Eikando-michi ou a pela linha do metrô Tozai até Keage.

Ninenzaka e Sannenzaka

Também em Higashiyama, logo depois da saída do templo Kiyomizu-dera, não deixe de passear pelas charmosas ladeiras Ninenzaka e Sannenzaka, com casas de madeira tipicamente japonesas e lojinhas com toda sorte de souvenires.

Ginkaku-ji

Dono do jardim mais suntuoso e bonito que vi em Quioto, esse templo já foi palacete e lugar de refúgio para o Xogum Ashikaga Yoshimasa. Se nome é traduzido como “Pavilhão Prateado”, mas a ambição do Xogum de cobrir a construção com prata nunca foi realizada. O ingresso custa 500 ienes. Chega-se pela linha de ônibus número 5, descendo Ginkakuji-michi.

Kinkaku-ji

Um colírio para os olhos é o templo mais impressionante de toda a cidade, dado o prédio principal ser todo coberto de placas de ouro, rodeado por um imenso lago. Não é à toa que eu escolhi como imagem para abrir esse post sobre Quioto.

A entrada custa 400 ienes e chega-se tomando o ônibus 205 da estação de Quioto, descendo em Kinkakuji-michi; ou a linha 59 saindo de Sanjo-Keihan até Kinkakuji-mae.

Palácio Imperial de Quioto

Embora não seja mais a residência oficial do Imperador do Japão, é um bonito complexo murado localizado no meio de um enorme e belíssimo parque, no coração da cidade.

Muita gente desconsidera a visita, mas eu confesso que gostei de dar uma volta por lá. Só não consegui entrar no palácio, pois ele fecha às segundas e eu não sabia. Entrada gratuita. Para chegar, tome a linha do metrô de Karasuma, desça em Marutamachi ou na estação Imadegawa.

Castelo Nijo-jo

Simplesmente imperdível, a começar pelo portão de entrada, o Kara-mon. Em seu interior, o castelo, com vários aposentos e pinturas espetaculares, representa todo o poder militar dos grandes generais de guerra do Japão, os Xoguns Tokugawa.

Não deixe de visitar também o seus jardins e tomar um chá, na casa de chá existente no local, apreciando a paisagem. Acessível pela lina Karasuma até Marutamachi ou Imadegawa.

O ingresso custa 600 ienes. A entrada do Castelo Nijo fica a uma curta caminhada da Estação Nijojo-mae, ao longo da linha de metrô Tozai. Alternativamente, o castelo pode ser alcançado a partir da estação de Kyoto pelos números 9, 50 ou 101 ou de Shijo-Kawaramachi pelo ônibus número 12.

Gion

Famoso distrito de lazer de Quioto, repleto de bares e restaurantes, à margem do rio Kamo-gawa, de cuja ponte tem-se uma bela vista, perfeita para curtir o pôr-do-sol.

Para compras percorra a concorrida avenida Kawaramachi, cuja continuação é a Shijo-dori, cheia de lojas de grife, de departamentos e de presentes, assim como docerias. Só não espere por bons preços.

Dá para chegar caminhando desde o templo Yasaka-jinja ou então pela linha do metrô Tozai, descendo em Sanjo-Keihan ou pelo trem urbano da linha Keihan até Gion-Shijo.

Fushimi-Inari

Uma das atrações mais memoráveis de Quioto, este complexo de cinco santuários xintoístas, conta com um sequência de milhares de toriis (portões) em vermelho vivo espalhados pela montanha ao redor, densamente florestada. Gratuito.

Parta chegar, tome a linha JR que leva a Nara, descendo em Inari (inclusa no JR Pass) ou a linha de trem urbano Keihan até Fushimi-Inari.

Arashiyama

Na base da montanha de mesmo nome, é um distrito de Quioto abençoado pela natureza. A curta distância da estação de trem de Arashiyama estão as suas principais atrações, como o templo Tenyu-ji (o ingresso custa 600 ienes) e um enorme bambuzal (grátis), no meio do qual vale a caminhada ao entardecer, onde a luz e o balanço das hastes de bambu conferem um efeito incrível!

Vale também um caminhada ao longo do rio que corta a região, onde há passeios de barco de madeira, típicos do Japão, e se quiser poderá visitar o Parque dos Macacos de Iwatayama (a entrada custa 550 ienes). Eu não fui, mas dizem que rende ótimas fotos dos animais e da vista panorâmica de Quioto.

Bate e voltas desde Quioto

Uma vez em Quioto, faça a cidade de base e reserve alguns dias extras para visitar outras cidades próximas, ou nem tanto, cuja distância, nestes casos, fica curta por meio do trem-bala, o shinkansen (incluso no JR Pass). Minhas sugesões são:

Nara

Primeira capital o Japão, tem como principal atração o Daibutsu (Grande Buda), uma das maiores imagens em bronze do mundo que fica no templo Todai-ki,por sua vez a maior construção em madeira do planeta, localizado no Parque Nara-Koen, repleto de muita natureza, paisagem relaxante, onde graciosos cervos circulam pelo local.

Ao mesmo templo, a cidade bem pequena tem ruas graciosas. Em 30 minutos saindo de Quioto chega-se a Nara pela linha JR.

Dá para combinar uma bate e volta a Nara com uma parada no templo xintoísta de Fushimi-Inari na ida ou na volta para Quioto.

Veja aqui como foi minha visita a Nara

Hiroshima

Embora seja conhecida como a cidade alvo do primeiro ataque a bomba atômica no mundo, Hiroshima está longe de ser um lugar triste. Ao contrário! Eu adorei a vibe da cidade, embora seus principais atrativos sejam o o Domo da bomba Atômica e o Parque Memorial da Paz.

A viagem entre Quioto e Hiroshima de trem-bala (Hikari) leva pouco mais de duas horas e a freqüência aproximada dos trens é de hora em hora. Uma dica importante para quem planeja fazer este bate e volta é sair cedo.

Miyajima

Essa pequena ilha é Patrimônio Mundial da Unesco e um dos locais turísticos mais visitados do japão. A principal atração é o Torii vermelho do santuário xintoísta Itsukushima-jinja, que parece flutuar durante a maré alta.

Dá para combinar uma visita a Miyajima com Hiroshima no mesmo dia. Chegando na estação central de Hiroshima você poderá pegar um Trem do tipo JR (JR Sanyo line sentido Iwakuni) até a estação Miyajima Guchi e de lá pegar um ferry (logo na saída da estação) rumo a Miyajima. O JR e o ferry estão inclusos no JR Pass, mas o Hiroden deve ser pago a parte.

Osaka

A terceira maior cidade japonesa é a capital do comércio no país, onde ruas cobertas de neon explodindo com sinalização 3D chamam a atenção. Está a apenas 15 minutos de Quioto via trens expressos.

Dessas cidades eu só não visitei Osaka. As demais eu fui e nos próximos posts vou detalhar como foi o passeio a cada uma delas.

Como eu organizei meu roteiro por Quioto e região

Veja a seguir como eu dividi meus seis dias em Quioto, visitando suas principais atrações e fazendo alguns bate e volta.

Dia 1 – Tirei o dia para conhecer a região de Higashiyama. Como eu estava hospedado nas proximidades, resolvi visitar à pé, nessa ordem, os templos Sanjusangen-do, Kiyomizu-dera, seguindo pelas ladeiras Ninenzaka e Sannenzaka, até chegar ao templo Yasaka-jinja.

Dia 2 – Comecei o dia pelo templo Nanzen-ji, visitando em seguida o templo Ginkaku-ji, seguindo de lá para explorar Gion ao entardecer.

Dia 3 – Comecei o dia pelo Parque e Palácio Imperial de Quioto, vistando depois o Castelo Nijo-jo, terminando o dia no templo Kinkaku-ji.

Dia 4 – Bate e volta a Nara, com parada na volta no templo Fushimi-Inari.

Dia 5 – Miyajina pela manhã e Hiroshima a tarde, voltando a noite para Quioto.

Dia 6 – Pela manhã compras em Gion e a tarde em Arashiyama.

Acompanhe nos próximos posts como foram os bate e volta a Nara, Miyajima e Hiroshima.

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