Quem acompanha o nosso trabalho, sabe como defendo “viajar” pela própria cidade onde vivemos. Afinal, cada destino possui características únicas e por estarmos acostumados a elas, não conseguimos enxergá-las ou, mesmo que tenhamos ciência dessas particularidades, simplesmente não damos a mínima.
E os motivos para que isso aconteça são muitos: pegamos trânsito, quase não andamos a pé, estamos sempre a adiar uma visita ao que há de novo, ficamos o tempo todo com o olho na tela dos nossos celulares, enquanto fazemos repetidamente, todos os dias, os mesmos trajetos.
Por essa razão, tentar mudar, de alguma forma, essa rotina, vai fazer como que descubramos coisas bem interessantes e curiosas, que jamais imaginávamos existir.
Locais que certamente serão motivo de orgulho após uma visita e os quais, tenha a certeza, teremos a maior satisfação em indicar para quem nos visita.
O que você diria de poder ver de pertinho, em Fortaleza, uma edição de “Dom Quixote” ilustrada por Salvador Dalí ou o livro “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego, com desenhos originais de Cândido Portinari?
Pois estas e muitas outras raridades da literatura mundial encontram-se à disposição do público na Biblioteca de Acervos Especiais da Universidade de Fortaleza, a Unifor.
Eu já sabia que a instituição é uma grande fomentadora da apreciação das artes. Possui um acervo riquíssimo de obras de artistas cearenses e também de expressão nacional e internacional, distribuídas nos três andares de sua Reitoria.
Também vem promovendo há muitos anos exposições de peso, a exemplo da Unifor Plástica, cuja a 19ª edição se encerrou recentemente.
No entanto, quando eu recebi o convite para visitar a Biblioteca de Acervos Especiais da Unifor, também localizada na Reitoria (no primeiro andar do edifício), confesso que eu jamais esperava encontrar um espaço como este em Fortaleza.
Onde poderia me debruçar sobre um acervo contendo tesouros do quilate do que, até então, eu só tinha visto fora do Brasil.
Ao ver as primeiras obras, a associação foi quase que imediata a, por exemplo, o Archivo General de las Indias, em Sevilha (Espanha), atração para os amantes de história, com documentos dos séculos XV ao XIX, relacionado, entre outros temas afins, à descoberta das Américas, incluindo aí o diário de Colombo.
Daí, foi quase que automático pensar que muitas vezes cruzamos fronteiras, atravessamos oceanos, para ver coisas que, guardadas a devidas proporções, estão bem ao nosso lado e nem sabemos.
Dividida em dois espaços, embora não muito grandes, para a surpresa dos visitantes ali estão expostos nada mais nada menos que oito mil volumes, divididos por assuntos como literatura, artes, biografias, direito, história do Ceará, entre outros.
Sem contar que ao percorrer os corredores da Reitoria, você vai se deparar com pinturas e esculturas de cair o queixo, dignas de museus renomados mundialmente. E olha que sei o que estou afirmando, afinal, modéstia à parte, eu já estive nos principais.
Como é a visita e o que você vai encontrar
Uma vez na biblioteca, a visita, que é guiada, começa pelo espaço dedicado aos livros que pertenceram à coleção particular do paulista Francisco Matarazzo Sobrinho.
Mais conhecido como Ciccillo Matarazzo, ele foi um dos maiores mecenas da história do Brasil e fundador do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) e ainda criador da Bienal Internacional de São Paulo. Já deu para sentir, o que lhe espera, não é?
Só nesta área, estão mais de três mil exemplares. Raridades como a primeira edição, datada de 1750, da “Opere Varie di Architettura”, de Giovanni-Batista Piranesi.
Esta obra traz a série completa de 16 gravuras dos cárceres da Roma Antiga, onde figuram enormes subterrâneos e escadarias monumentais. O artista é considerado o maior gravador do Século XVIII. Impressionante!
Outro destaque é o livro “Menino de Engenho” (me fez lembrar os tempos de escola), do brasileiro José Lins do Rego, sendo que com um grande diferencial: ilustrações originais de Cândido Portinari. Dá para imaginar o que é este trabalho? Só vendo com os próprios olhos. Indescritível!
Tem também a primeira edição, que data de 1835, da “Malerische Reise in Brasilien”, do ilustrador alemão Moritiz Rugendas. O volume é composto por 100 litografias que retratam características físicas, hábitos e costumes da população brasileira à época.
Ainda entre os tesouros ali expostos: o álbum “Miserere”, do artista Georges Rouault, com 58 litografias de grandes dimensões e “As vidas dos Pintores, Escultores e Arquitetos”, de Giorgio Vasari, pintor e arquiteto italiano conhecido, principalmente, por suas biografias de artistas de sua terra natal.
Para completar, não deixe de pedir para ver algumas exemplares da coleção da Sociedade dos Cem Bibliófilos, entre eles o livro Macunaíma. A coleção é formada pelos 23 volumes confeccionados à época, o que a torna completa.
A entidade, criada em 1943 no Rio de Janeiro, tinha como objetivo realizar edições de livros com alta qualidade gráfica.
Cada edição tinha somente 120 exemplares, dos quais 100 eram distribuídos entre os integrantes da sociedade, entre eles Ciccillo Matarazzo, e os demais enviados para as principais bibliotecas do país e do exterior.
Para você ter uma ideia da importância da Sociedade dos Cem Bibliófilos, Dom Pedro de Orleans e Bragança era um dos membros.
“Há livros de história em que as ilustrações são feitas em pigmentos de ouro”
Revelou ao blog a a curadora responsável pela Biblioteca de Acervos Especiais da Unifor, Cecília Bedê. “Estes livros contém algo de artístico, com uma ilustração ou encadernação mais antiga e trabalhada com iluminuras. Livros com aquarela feita à mão, com gravuras originais. Isto é, todo o acervo está voltado para a arte”, completa.
Já no segundo espaço da biblioteca está presentes livros raros como Dante con L’espositioni di Christoforo Landino (1578); Geschichte in Brasilien (sobre o governo de Maurício de Nassau), de Gaspar Barleus (1659) e o Arquivo da História do Ceará, organizado pelo jornalista e fotógrafo Thomaz Pompeu Gomes de Matos.
E, por favor, não esqueça de pedir para ver o livro de Dom Quixote ilustrado por Salvador Dalí. Confira algumas ilustrações na galeria abaixo:
O que dizer desta obra? É de tirar o fôlego! Acostumado com as obras de Dalí penduradas em paredes em museus pelo mundo, ver tão de pertinho ilustrações do grande mestre espanhol, em forma de livro, e aqui na minha terra, é emocionante.
“Visitar a Biblioteca de Acervos Especiais da Unifor e se debruçar sobre o seu acervo é como descobrir tesouros sucessivamente, um após o outro”
Faz questão de destacar o professor Thiago Braga, chefe da Divisão de Arte, Cultura e Eventos da Unifor.
“A diferença é que esse tesouros não estão escondidos, tudo está ao alcance de quem se dispuser a explorá-los. O valor artístico e histórico da obras aqui reunidas se deve não só ao talento de seus autoeres ou editores, nem apenas ao período em que foram produzidas, mas principalmente à beleza e riqueza do conteúdo que apresentam”, emenda.
De fato, não tem como não concordar com suas observações. Por todos esses motivos, seja você apreciador, ou não, da arte e da literatura, não deixe de conhecer a Biblioteca de Acervos Especiais da Unifor.
Tenha a certeza de que você vai sair diferente do que entrou. Alguma coisa vai lhe chamar a atenção e algum aprendizado há de ficar. Vá por mim!
Para saborear
E, ao final da visita, vale uma parada no café que fica no térreo da Reitoria, por trás do seu edifício.
Rodeado de plantas e bem aconchegante o local é um ótimo espaço para refletir e trocar uma ideia sobre o que viu na biblioteca ou simplesmente relaxar.
Conta com WiFi gratuito e ótimos cafés e comidinhas. Experimente o capucino gelado. Refrescante e delicioso!
Como visitar a biblioteca
Para conhecer a Biblioteca de Acervos Especiais da Unifor você não paga nada. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira das 8h às 12h e das 14h às 18h. Aos sábados é necessário agendar.
O telefone para contato é (85) 3477.3823 e o e-mail é acervosespeciais@unifor.br.
A Unifor fica localizada na Avenida Washington Soares, 1321, bairro Edson Queiroz e conta com estacionamento gratuito.
Se você é de fora e está na cidade, uma corrida de Uber da Avenida Beira-Mar, região da maioria dos hotéis, até a universidade custa entre R$ 15 e R$ 20.
Enfim, mais uma prova de que o turismo no Ceará não se resume a sol e praia!
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março 8, 2018Muito obrigado, Anchieta Dantas Jr.!! TMJ, amigão!!