Antes de qualquer viagem é muito normal rolar aquela ansiedade e uma grande expectativa, principalmente quando vamos experimentar algo que já recebeu muitos elogios e reconhecimentos. Ao decidir visitar Dubai, foi exatamente como eu me senti desde que comprei a passagem para voar de Emirates, companhia que já chegou a ostentar o título de melhor empresa aérea do mundo pelo Skytrax World Airline Awards, considerado o “Oscar” da aviação mundial.
Sentimento esse que só aumentou quando descobri que o percurso seria feito a bordo do famoso Airbus A380, o maior avião comercial da atualidade.
Porém, como quase tudo na vida, a expectativa é bem diferente da realidade: pode surpreender e superar o que esperamos ou, simplesmente, nos decepcionar.
Infelizmente, a segunda opção foi o que ocorreu comigo, em janeiro deste ano, nas 15 horas que passei, tanto na ida como na volta, dentro da classe econômica do avião da Emirates no trajeto São Paulo-Dubai-São Paulo. Será que eu mudaria de opinião voando na executiva ou de primeira classe? A saber!
O fato é que não voar nas classes premium da companhia não justifica o tratamento que recebemos por optar pela econômica. Afinal, o alto preço que pagamos por ela não faz jus ao serviço prestado a bordo, que deveria apresentar diferenciais em relação a igual categoria nas concorrentes.
Quanto ao check-in e ao embarque na capital paulista eu até que não tenho do que reclamar. Organizado, embora demorado, com funcionários atenciosos.
No entanto, ao entrar na aeronave, eu comecei a entender porque a Emirates despencou da primeira para a quinta colocação entre as melhores companhias aéreas do mundo, em 2019, pelo Ranking Sktytrax.
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O embarque em São Paulo
A sala de embarque estava lotada em função da quantidade de gente que o A380 comporta. Com 73 metros de comprimento e dois andares, a capacidade máxima da aeronave é de 853 pessoas. No entanto, o exemplar da Emirates transporta apenas 491 passageiros, divididos em três classes, sendo 14 nas suítes da primeira classe, 76 na executiva e 401 na econômica. Mesmo assim é muita gente!
Eu já tinha escutado que atrasos nos voos da Emirates são raros de acontecer. Para comprovar, fomos chamados a embarcar na hora exata e mesmo com as grandes filas que se formaram, até que entramos rápido no avião. O staff separa os passageiros em grupos e isso de certa forma põe ordem na casa. Resultado? Decolamos no horário previsto.
Vale à pena destacar que o embarque da executiva e da primeira classe é feito por um conector separado. No A380, as classes premium ficam no andar de cima do avião, que conta com sala de estar, lounge e muitas outras regalias. Infelizmente, conforto assim ainda é para poucos, e não era o meu caso. Nem subir para conhecer é permitido.
A classe econômica do A380 da Emirates
No andar debaixo, onde está acomodada a classe econômica, o avião possui uma fileira central de quatro cadeiras e nas laterais mais duas fileiras, uma de cada lado, com três assentos cada, se estendendo por três diferentes setores da aeronave.
Durante o voo, por várias vezes, transitei entre elas a fim de esticar as pernas e para ter uma ideia do tamanho. O deslocamento é tranquilo embora os corredores sejam meio apertados quando comprados com outros modelos de aviões comerciais.
Há banheiros nas partes dianteira e traseira, e também no meio da aeronave. Contudo, não espere um tamanho maior do que você está acostumado em outras companhias.
A limpeza da aeronave é satisfatória. O que deixou a desejar foram as condições dos banheiros depois de algumas horas de voo. Não vi darem manutenção. Piso molhado, papeis escapando da lixeira e falta de sabonete líquido para lavar as mãos já no fim da viagem. Isso tanto na ida como na volta.
Quanto aos assentos, eles são um pouco mais largos do que os encontrados em outras classes econômicas e com relativo espaço para as pernas, mas nada que arranque um suspiro de admiração se comparado com o tamanho do avião. Eu esperava mais!
Ao chegar à cadeira, encontramos travesseiro, manta, fone de ouvidos e um kit de amenidades: máscara, tampão de ouvidos, escovas de dentes, um minúsculo tubo de creme dental e meias, a fim de que possamos tirar os sapatos, usá-las e descansar os pés durante a viagem, assim como circular pelo avião sem os calçados se desejar.
À nossa frente, o destaque fica para o tamanho do monitor de vídeo, instalado nas costas do assento dianteiro, que ocupa quase toda a largura da poltrona.
Da mesma forma, chama a atenção o variado cardápio de entretenimento (centenas de filmes, dezenas de jogos, séries, músicas, dicas sobre destinos turísticos operados pela empresa e informações sobre o voo daquele dia, incluindo mapas do percurso e câmeras para ver o que se passa fora da aeronave). Afinal, são 15 horas de voo, né? Eles têm mesmo que ajudar a ocupar o tempo.
A possibilidade de operar o sistema de entretenimento em 13 línguas diferentes, incluindo o português, também é um plus.
Para carregar seus eletrônicos, existem tomadas com entradas correspondentes a pinos de diversos países, assim como uma porta USB, localizadas logo abaixo do monitor no assento à sua frente.
Tomada para carregar eletrônicos
O serviço de bordo
São Paulo a Dubai
Apesar das dimensões diferenciadas, os procedimentos de bordo no A380 da Emirates são os convencionais e em nada diferem de outros modelos de aeronaves e demais companhias.
Além disso, diferentemente da atenção recebida em solo, eu não posso dizer o mesmo da equipe de comissários. Embora fluente em vários idiomas, inclusive há quem fale português, eles não se mostraram nem um pouco solícitos. Atendimento frio, distante, pessoal desprovido de sorrisos e gentilezas. Como se sentir bem-vindo e acolhido a bordo?
Algo que gostei, e ainda não havia visto em outras companhias aéreas, foi um conjunto de três etiquetas distribuídas logo após o embarque.
Elas servem para você colar no seu assento caso queira ser acordado no momento das refeições, na hora que forem passar o Duty free ou não deseje ser perturbado durante o voo. Mas o que pretendia ser um mecanismo de eficiência, na prática não funcionava. As mensagens eram ignoradas. Pelo menos comigo foi assim.
Como o voo é muito longo, são servidas três refeições, sobre as quais tomamos conhecimento por meio dos cardápios que são distribuídos no início do voo. Só que na Emirates, quantidade não vem acompanhada de qualidade!
Para começar, não foi servido um jantar, mas sim uma espécie de café da manhã em plena às duas e meia da madrugada, acredito que para entramos no fuso horário do Oriente Médio. A quantidade era até aceitável, a temperatura boa, mas sabor é um quesito que passa longe comida. Na bandeja, frutas, omelete, batatas, pão, manteiga e bolachas.
No meio do voo, constava uma refeição intermediária. Na ida, estava previsto recebermos uma empanada de frango ou frutas e barras de cereais (não pode ser os dois). Vieram? Não! Pelo menos para mim.
Conversei com outros passageiros depois do voo e me disseram que esse lanche só alcançou a primeira ala da classe econômica. Como pode isso? Será que não havia quantidade suficiente ou foi incompetência dos comissários? A saber!
Já mais próximo de chegar a Dubai foi servido o que eles chamaram de almoço, mas que para mim funcionou como um jantar, já que a essa altura era noite por onde estávamos sobrevoando. As opções eram xixim de galinha ou bife e de sobremesa musse de chocolate. Fiquei com o xixim, que veio quente, mas, mais uma vez, a comida não veio saborosa.
Quanto às bebidas, as opções eram água, sucos, refrigerantes, café, chá, vinho branco e tinto (servidos em simples copos de plástico), cerveja e destilados.
Porém, embora eles afirmem que o serviço possa ser solicitado a qualquer momento do voo, segundo escrito no cardápio, das vezes que pedi, não fui atendido, com a desculpa de que o bar não estava aberto. Então, para que informam que o serviço existe?
Além do que, quando precisei chamar um comissário para pedir água a fim de tomar um medicamento, o fiz repetidas vezes em um intervalo de mais de uma hora e nada de aparecer alguém para me atender. Resultado? Tive que me levantar e ir à cozinha para pedir.
E não pense que parou por aí. Ainda fui recebido com cara feia, mesmo após ter explicado educadamente que estava passando e muito da hora da minha medicação. Para completar, recebi, com muita má vontade, um copo com apenas dois dedos de água, que me foi entregue em um empurrão que quase fez o copo virar por cima de mim.
Agora me diga se isso é serviço a altura de uma companhia que figura na lista das dez melhores empresas aéreas do mundo e cobra preços bem acima da média para viajar, inclusive na classe econômica? Puro marketing!
Felizmente, apesar do atendimento dispensado, o voo foi tranquilo e pouco mais de 12 mil quilômetros depois, estávamos chegando a Dubai.
Dubai a São Paulo
Ao voltar para o Brasil, a minha experiência a bordo do A380 da Emirates não foi diferente do que descrevi sobre o voo de ida. O serviço continou deixando a desejar. O único bônus, foi que consegui ganhar a refeição intermediária. Veja abaixo fotos dos pratos servidos.
Ah! E diferentemente do que ocorreu na ida, na volta, o check-in em Dubai não teve a mesmo atendimento recebido em São Paulo. Filas ainda maiores, muito mai demorado e funcionários distantes e desinformados. Decepção, viu?
Conclusão
Obviamente, quando comparada à maioria das companhias aéreas do mercado, a Emirates se destaca pela idade da frota (bem mais nova) e conforto das aeronaves, mas deixa a desejar no serviço, principalmente a bordo. No entanto, ressalto que esta é uma opinião de quem voou de classe econômica.
Como os preços são mais caros do que a média, para voar nesta classe, vale comparar com outras empresas na hora de voar. Se a tarifa da Emirates estiver atraente, compre! Caso contrário, não vejo motivo para você pagar mais caro e não obter, em troca, um serviço a altura do preço que cobram.
Você pode não concordar, mas, em minha opinião, a única vantagem de voar de Emirates de classe econômica do Brasil para Dubai é ter um voo direto saindo desde o Rio de Janeiro ou São Paulo, o que economiza tempo.
No mais, o encantamento que eu esperava virou decepção. Será que fui esperando demais?
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